Para
compreendermos um pouco melhor da psicologia feminina e masculina, é preciso
antes introduzir uns dos conceitos mais básicos de Jung, que são os princípios
masculino e feminino, chamado pelo autor de animus e anima respectivamente. Para
a Psicologia Analítica, tanto as características do animus quanto as da anima
estão presentes em ambos os sexos, ou seja, o homem também tem parcelas de
feminino e a mulher do masculino.
Originalmente,
Jung formulou esta ideia da seguinte forma: a anima estaria presente no
inconsciente masculino e o animus no inconsciente feminino. O homem teria a
consciência puramente masculina e a mulher puramente feminina, e seus
contrapontos estariam inconscientes. No entanto, este conceito foi reformulado
com os teóricos pós-junguianos, hoje sendo aceita a ideia de que as
características femininas podem também estar presentes na consciência do homem
e as masculinas na consciência da mulher.
Mas o
que seria exatamente o masculino e o feminino? Seriam as características dadas
pela cultura? Os conceitos de anima e animus são substancialmente universais,
variando suas formas de manifestação ou de intensificação de acordo com a
sociedade, tempo histórico e cultura. Por exemplo, a cultura patriarcal
intensificou muito as características masculinas e desvalorizou as femininas,
sendo responsável, entre outras questões, pelo preconceito em torno da mulher.
Hoje isto está mudando.
Não é
minha intenção aqui aprofundar em conceitos tão profundos em um texto tão
sucinto. De maneira breve, descreverei os principais norteadores de cada
conceito.
A anima se trata das funções receptivas, passivas, não lógicas e
abstratas da psique. Ela tem a capacidade de trazer maior flexibilidade e abstração
ao nosso modo de entender ou de viver a vida.
O animus é responsável pelas funções
lógicas e racionais, sendo também o componente que nos traz direção,
discriminação e que integra o indivíduo à cultura.
Embora
ambos os gêneros contenham tais características, por fatores culturais, a anima
esteve mais acentuada na mulher e o animus no homem por muitas décadas. Nos
dias de hoje, essas polaridades estão mais diluídas, principalmente na questão
da mulher, que desenvolveu as funções mais práticas, principalmente depois de
sua inserção no campo do trabalho assalariado e por sua maior participação nas
questões públicas. O homem tem buscado reconfigurar as questões racionais e
abstratas na sua consciência, sendo este um campo de amplos estudos na academia
atualmente.
Hoje em dia é comum, independente do gênero, visualizarmos um
desequilíbrio entre animus e anima na psique. Culturalmente, principalmente por
conta de exigências profissionais e econômicas, atendemos muito mais as
demandas lógicas e práticas do animus do que as atividades de abstração e
interiorização próprias da anima, tão importante para o equilíbrio psicológico.
Quando
este desequilíbrio está muito acentuado, observamos diversos sintomas, seja no
corpo (somatizações, doenças em geral), seja na psique (quadros de ansiedade
acentuados, depressão, entre outros) e também nos relacionamentos em geral.
A psicoterapia de base
analítica busca identificar e restaurar a qualidade de cada componente no
indivíduo. O conhecimento de si mesmo auxilia no bom desenvolvimento dos
relacionamentos e da nossa adaptação ao mundo.
Alessandra Munhoz
Lazdan
CRP 06/69627