quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O Toque como Constituição Psíquica


Acho difícil alguém ver esse vídeo e não se sentir tocado. A sensação de prazer e acolhimento ao se colocar no lugar desse bebê nos mostra o quão o toque é vital para o ser humano. Na verdade, o toque é essencial para o desenvolvimento de todos os mamíferos, animais que possuem o sistema límbico no cérebro, parte que regula os processos emocionais do Sistema Nervoso Autônomo, sendo responsável pelas funções de vínculo e afeto, constituintes vitais para o desenvolvimento sadio de todos os animais que o possuem, e nós seres humanos somos um deles.

Reportando-nos especialmente a nós, seres humanos, pensemos na importância vital do toque na nossa organização psíquica. De onde vem esta necessidade de contato corporal e porque isto nos faz bem psiquicamente? Porque a pele é importante na organização psíquica e como participa desta construção?

Nossa memória se constitui em primeira instância através das sensações. Os registros do início da vida (registros mnêmicos) são armazenados no corpo. O contato corporal na relação mãe-bebê é a primeira forma de comunicação do ser humano. Posteriormente, com o desenvolvimento da linguagem é que conseguimos dar significado a esses registros, ou em outras palavras, a simbolizar essas sensações.

Do ponto de vista embriológico, a pele e o sistema nervoso têm a mesma origem. Montagu considera o sistema nervoso como “uma parte escondida da pele ou, ao contrário, a pele pode ser considerada como a porção exposta do sistema nervoso” (MONTAGU, 1971, p.23). Por isso, ao mesmo tempo em que nos protege, ela também é um dos nossos primeiros meios de comunicação.

Considerando que o toque é a nossa primeira referência de contato e afeto e faz parte de nossos registros e memória afetiva, é desejável que as estimulações cutâneas sejam tranqüilizadoras, reconfortantes e agradáveis para que o bebê possa ter um desenvolvimento saudável, sem nenhuma interrupção na sua continuidade de existência. Assim sendo, o toque possui uma importante função na estrutura psíquica do sujeito.

Quando o toque é oferecido com afeto e intenções de acolhimento, o bebê o registra como uma experiência prazerosa, que enriquece e favorece a construção das estruturas afetivas, ao passo que as experiências de desprazer tendem a ser disfuncionais para o bom desenvolvimento dessas estruturas, podendo dar origem a uma série de transtornos psicológicos, sejam de ordem mais simples, como dificuldade de estabelecer vínculos e confiança com outras pessoas; sejam moderadas, como ansiedades e medos; ou complicações mais severas como fobias, síndrome do pânico, transtornos afetivos entre outros.

Todas essas considerações sobre a importância do toque embasaram a criação da Psicologia Biodinâmica, que faz uso do toque terapêutico, como ferramenta para o tratamento de problemas psicológicos que se associam com as estruturas primárias da formação das estruturas psíquicas, como aqui pontuadas. A Psicologia Biodinâmica propõe o “descongelamento” e o fortalecimento da energia corporal e psíquica. O tratamento corporal biodinâmico auxilia, entre outros aspectos, na revitalização energética nos casos de depressão e apatia; na distribuição e harmonização da energia corporal para os que sofrem de stress, ansiedade e insônia; na integração psíquica, minimizando e tratando de sintomas da síndrome do pânico, por exemplo, e agitação mental, devolvendo a concentração e harmonia.

A Psicologia Biodinâmica surgiu na década de 1960, em Londres, quando teve suas bases teóricas e técnicas formuladas por Gerda Boyesen, uma psicóloga e fisioterapeuta norueguesa, e vem influenciando um grande número de profissionais em vários países do mundo desde então.


Referências consultadas:

MACHADO, Rebeca Nonato; WINOGRAD, Monah. A importância das experiências táteis na organização psíquica. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, dez. 2007 . Disponível em . acessos em 17 fev. 2013.

MONTAGU, A. Tocar: o significado humano da Pele. 7 ed. São Paulo: Summus, 1971.


ALESSANDRA MUNHOZ LAZDAN
CRP 06/69627

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Psicologia Analítica ou Psicologia Junguiana

Carl Gustav Jung
Como o ser humano é composto de múltiplos aspectos, nuances e tendências, é impossível haver uma teoria que contemple toda a dimensão da natureza humana. Por este motivo, não falamos de uma Psicologia, mas de teorias psicológicas. Cada profissional segue a linha com a qual encontra maior identificação e afinidade.
Em termos gerais, existem escolas de psicologia que trabalham com os aspectos conscientes da psique, voltando-se para os padrões do comportamento e processos mentais. São as chamadas Psicologias Comportamentais e Cognitiva.
Em outra vertente, existem as Psicologias que consideram, além da consciência, a existência de processos inconscientes da mente que influenciam ou até mesmo ditam as atitudes, pensamentos e comportamentos que supúnhamos ser inteiramente conscientes. E, se existem processos inconscientes que governam nossas atitudes, não temos tanto controle quanto acreditávamos sobre nós mesmos. A não ser que nos submetamos a um processo de análise.
A terapia, desta forma, não se configura apenas como tratamento de distúrbios, mas principalmente como forma de autoconhecimento. Conhecendo melhor a si mesmo, tendemos a nos harmonizarmos melhor em primeira instância consigo próprio, e consequentemente com o ambiente e as pessoas com quem convivemos.
A Psicanálise de Freud foi a grande precursora a introduzir a ideia do inconsciente no estudo da Psicologia. Por meio da hipnose e posteriormente com a interpretação dos sonhos, Freud percebeu que havia determinantes inconscientes causadores das alterações emocionais. Definiu como a libido essa energia inconsciente e sua constituição seria de origem sexual. Na época, início do século XX, essa ideia causou grande alvoroço entre os teóricos da Psiquiatria e Psicologia, recebendo inúmeras críticas. Hoje, a Psicanálise, embora com a hipótese da base sexual da libido ainda válida, sofreu várias alterações com os novos teóricos, como Winnicott, se pautando fortemente na relação mãe-bebê para a constituição da estrutura do eu saudável, por exemplo.
C. G. Jung foi o principal discípulo de Freud, diferenciando-se dele principalmente por discordar da natureza da libido, não generalizando-a com a conotação sexual, mas considerando-a como uma energia vital, sendo a sexualidade apenas uma parte desta energia, e não a única.
Outra diferença entre Jung e Freud foi a ampliação da concepção do inconsciente. Depois de muitos estudos e pesquisas, comparando a natureza dos processos mentais de diferentes povos (Europa, América, África, Ásia), Jung percebeu que o chamado inconsciente não se constituía apenas de reservas das experiências infantis – o que distinguiu com o inconsciente pessoal – mas agrega também as experiências herdadas dos seres humanos como espécie. Nomeou a esta ampliação como o inconsciente coletivo.
O inconsciente coletivo é um reservatório de imagens latentes, chamadas de arquétipos ou imagens primordiais, que cada pessoa herda de seus ancestrais. A pessoa não se lembra das imagens de forma consciente, porém, herda uma predisposição para reagir ao mundo da forma que seus ancestrais faziam. No entanto, são as experiências individuais que nos permitem diferenciarmo-nos uns dos outros e constituir assim, um chamado Eu.
Jung também considerou com grande relevância as tendências espirituais próprias da espécie humana. Hoje, o estudo da espiritualidade tem ganho bastante força, principalmente no meio médico, por ser considerado um aspecto vital para o desenvolvimento e equilíbrio da psique. Jung fez o estudo das religiões comparadas, reconhecendo sua importância para o homem, voltando-se com respeito para a crença de cada paciente. Este é o causador de um dos principais equívocos pelo qual Jung é chamado ou conhecido como “místico”.
A teoria de Jung foi nomeada Psicologia Analítica. Neste breve relato, procurei apenas introduzir parte de seu conceito, sendo impossível contemplar toda a relevância de sua obra num único texto.

ALESSANDRA MUNHOZ LAZDAN
CRP 06/69627


Psicologia Corporal

A Psicologia tem trabalhado atualmente com conceitos reconhecidos em culturas milenares, como as concepções de saúde orientais da relação mente-corpo. A Medicina Tradicional Oriental sempre reconheceu e trabalhou com a visão holística do ser humano, ou seja, reconhecendo o homem como uma unidade dinâmica psico-física-espiritual. Estudiosos da Psicologia, percebendo a influência desta relação, partiram ao aprofundamento deste estudo o que se denomina hoje a chamada Psicologia Corporal.

Esta abordagem compreende tanto o aspecto físico do corpo, conhecida como a imagem corporal (como o corpo é visto e aceito socialmente, como a própria pessoa vê a si mesma e sua autoaceitação - isto inclui também os transtornos alimentares como a obesidade, bulimia e anorexia), como as sensações corporais, como o bem estar com o próprio corpo, as sensações de prazer e desprazer (incluindo a sexualidade), as emoções que surtem no plano físico, as expressões que conseguem ser exteriorizadas de maneira espontânea ou as que “devem” permanecer represadas no corpo, causando angústia, medo, ou até mesmo doenças. Um exemplo comum hoje em dia é a Síndrome do Pânico; sensações e emoções acumuladas que não puderam ser nomeadas e manifestadas de forma assertiva ou adequada no momento original. Este acúmulo de sensações, hoje transformados em sintomas de ansiedade e angústia, explodem de uma única vez no corpo causando desespero e desestruturando a vida do indivíduo acometido. Este tipo de transtorno acontece quando a conexão entre o psíquico e o corpo falha, desconexão cada vez mais freqüente na sociedade em que vivemos, cercada de exigências pessoais e profissionais de sucesso e desempenho perfeito, colocando em sacrifício os anseios da própria alma.

No cotidiano, a inconsciência corporal permite que as tensões do dia a dia bloqueiem o fluxo normal da energia e das emoções fazendo com que se perca a espontaneidade nas relações humanas.

Entre as vertentes da Psicologia Corporal destaca-se a Psicologia Biodinâmica, que intervém no corpo através da Massagem Biodinâmica.

A Psicologia Biodinâmica propõe o “descongelamento” e o fortalecimento da energia corporal e psíquica através da massagem. A massagem pode ser utilizada para a redescoberta da percepção do corpo e de si mesmo. Ela se apresenta antes de tudo como um cuidado ao indivíduo, respeitando seu momento, suas necessidades e limitações. Para isso, ela dispõe de variados tipos de toques e procedimentos.

O tratamento corporal biodinâmico auxilia, entre outros aspectos, na revitalização dos fluxos vitais nos casos de depressão e apatia; na distribuição e harmonização da energia corporal para os que sofrem de stress, ansiedade e insônia; na integração psíquica para os sintomas desintegrativos, sentido na Síndrome do Pânico; devolve a concentração e criatividade.

De maneira geral, a consciência corporal despertada no trabalho biodinâmico contribui na autorregulação psíquica, orgânica e espiritual, proporcionando maior vitalidade e saúde para o ser humano como um todo.


ALESSANDRA MUNHOZ LAZDAN
CRP 06/69627

Rejeição da Gravidez: uma possibilidade

Socialmente, a gravidez é vista como um período feliz e esperado com grande expectativa. Na maioria das vezes, a notícia é recebida com alegria, a futura mamãe recebe muitos presentes de todas as partes, familiares e amigos – presentes estes não para ela, mas para o bebê. A partir deste momento as atenções são voltadas quase que exclusivamente para o bebê. É certo que este “serzinho” que está para chegar é merecedor de profunda atenção, contando ser ele um ser totalmente dependente, necessitando de muito cuidado e carinho.

Mas para que o período gestacional seja bem sucedido, é preciso ter um olhar especial para a protagonista desta história: a mãe. Como é que ela vivencia a gestação? Com satisfação, como esperado socialmente, ou de maneira conflituosa, como muitas vezes acontece de maneira velada? Para a mulher grávida, esta é uma fase de profundas mudanças físicas, psíquicas e sociais. Mesmo na gravidez considerada normal, do ponto de vista obstétrico, pode emergir ampla variedade de emoções como a introversão, passividade, mudanças bruscas de humor, inquietação, irritabilidade, preocupação e depressão, conseqüências da ansiedade relativa a este período.

No primeiro trimestre da gravidez, é comum observar sintomas referentes à inadaptação a este período, como a ambivalência de sentimentos, por exemplo, reconhecida por oscilações entre a aceitação e rejeição da gestação. Quando isto acontece, as mulheres costumam apresentar comportamentos regressivos, tornando-se mais exigentes, não cooperadoras, provocativas, hostis, passivas, controladoras e desinteressadas dos cuidados médicos. Estes sintomas sugerem desajuste em relação a seu estado e dificuldade em estabelecer vínculo com o feto.

Com o passar do tempo e com a ajuda do parceiro ou da família a situação tende a se normalizar. Mas não são poucos os casos em que problema persiste até o final do período gravídico. E não é recriminando estas mulheres por não aceitar o próprio bebê que elas mudarão suas atitudes. Mesmo porque não estamos falando simplesmente de um comportamento, mas de um sentimento. E se a família, e a própria mãe, não parar para olhar a situação com maior cuidado, estarão colocando em risco não apenas a vida da mulher, mas também daquele que se quer tanto proteger, o bebê.

Ao contrário do que se pensa, as gestantes que enfrentam este problema sofrem muito, principalmente pela culpa que as atormenta. As razões pelas quais não aceitam o próprio filho? São inúmeras e estritamente pessoais. Seja porque engravidou nova demais, ou porque estava no início do casamento, por motivos sócio-econômicos, porque engravidou para satisfazer um desejo do parceiro, porque engravidou solteira ou simplesmente porque não se sentia preparada. O fato, é que nenhuma delas é merecedora de julgamento moral. Mas necessitam, sim, de um tratamento adequado e urgente.

Na minha experiência na Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas em São Paulo, deparei-me com diversos casos em que se observava o sofrimento humano latente. Dentre tantas que apresentavam riscos reais (obstétricos) durante a gestação, havia uma grande procura por atendimento psicológico também por aquelas que não manifestavam graves problemas de saúde física, mas justificavam a iniciativa do tratamento para “prevenir” a depressão pós-parto! Do meu ponto de vista, um verdadeiro ato de amor e sabedoria! Estas mulheres acabavam confessando que não conseguiam aceitar a gravidez e temiam fazer mal ao bebê depois do seu nascimento. Se todas as mulheres que sofrem do mesmo problema tivessem a mesma coragem de reconhecer tal sentimento, evitariam muitas complicações na relação com o bebê, entre elas, a depressão pós-parto. Quando escutadas com respeito, estas gestantes têm a possibilidade de compreender os próprios sentimentos e elaborar o conflito, permitindo lidar com a gravidez de forma mais adequada e saudável.

Ignorar a situação pode fazer com que o problema agrave ainda mais. A percepção e ajuda do parceiro e da família neste momento são fundamentais. A procura por ajuda especializada pode ser recomendada. Todo suporte que auxilie este período é bem vindo para que a gravidez seja lembrada como uma fase de transformação e celebração da vida, estimulada pela chegada de um novo ser no mundo, o seu filho!

ALESSANDRA MUNHOZ LAZDAN
CRP 06/69627