Por
uma questão cultural, acredita-se que a mulher foi feita para a maternidade.
Logicamente, essa ideia parte do princípio de sua própria natureza: é ela quem
gera o filho. Porém, o que vem associado à figura materna, comporta questões
que ultrapassam sua natureza biológica, trazendo conflitos e inquietações às
mulheres, assunto dificilmente compartilhado entre elas.
Entendemos
como a figura da mãe, aquela mulher amável, tranquila, compreensiva, acolhedora
e capaz de enormes sacrifícios pelos filhos. Entendemos também que toda mulher
tem o desejo de ser mãe e que esse papel é primordial em sua vida, momento em
que ela se realizará como mulher.
Na
verdade, toda essa ideia em torno da figura materna foi socialmente construída,
sendo inclusive bem recente dentro da História. Foi só a partir do séc. XVIII
que se institui à figura materna essas características, influenciadas pelos
ideais românticos próprios desse período. Antes disso, a criação dos filhos era
destinada às amas de leite, e não era função das mães.
É
verdade que a maternidade faz parte do anseio de muitas mulheres, e em muitas
delas se torna o ponto central de suas vidas. A questão, é que esta disposição
não é passível de generalização. A ideia da maternidade como natural e
instintiva deve ser desconstruída. Sua prerrogativa impõe às mulheres uma
interdição a outros sentimentos e desejos que escapam daquela da mãe amorosa e
idealizada. A maioria das mulheres experimenta sentimentos contraditórios e
inconciliáveis com a imagem idealizada da maternidade. E assim, se estabelece
um conflito entre o ideal e o vivido, levando a um sofrimento psíquico que pode
se configurar como uma das bases para a depressão pós-parto.
A impossibilidade de
corresponder aos altos ideais da maternidade culturalmente construída, ou seja,
a da mãe perfeita e a satisfação absoluta com esse papel, tende a gerar
sentimentos de desapontamento, vergonha, desilusão, fracasso e de fragilidade
em relação a si mesma.
Como precaução, é preciso entender
que a maternidade é menos instintiva e mais construída. E que com seu
aprendizado, existe a possibilidade de se experimentar temores, dúvidas,
ansiedades, e, em certos casos, sentimentos de hostilidade e rejeição.
Compreender que a maternidade faz parte de uma das dimensões do rol das
relações humanas, e que assim sendo, é intensa, plural e multifacetada nos abre
mais espaço para a elaboração de seus conflitos e aí sim, abrir uma real
possibilidade para a vivência de uma maternidade mais verdadeira e saudável.
Alessandra Munhoz Lazdan